A CASA É A VIAGEM
A CASA É A VIAGEM
Bárbara Bergamaschi
Brasil
2020
Filme
Curta-Metragem
Bashô é um dos mais célebres poetas de Haikai, tendo influenciado grandes nomes da poesia tais como Paulo Leminski, Ezra Pound e Maiakovski - sendo inclusive citado na teoria da montagem de Eisenstein. A partir de uma coleta de material de arquivo iniciada em 2016, feito único e exclusivamente com imagens de câmeras de vigilância online e sites de geolocalização (como o Google Street View) , re-encenamos virtualmente, a viagem de Bashô, registrada no livro "Trilhas Longínquas de Oku” (2016). Nesse diário de viagens, o poeta narra sua jornada a pé de mais de 2300km pelos cantos remotos do Japão durante o século XVII. Criamos uma mise-en-scène de encontro dialético de tempos, em um experimento híbrido entre documentário e ficção.
O filme busca investigar, em primeiro lugar, se seria possível traduzir ou agenciar uma experiência semelhante aos dos haikais de Bashô, que alia paradoxalmente duas percepções do tempo conflitantes: a brevidade e a contemplação. Imagens que emergem em relampejo, e ainda assim são capazes de expressar a eternidade em um estado de impermanência, noção central que fundamenta a filosofia zen-budista, do qual Bashô era seguidor. A proposta seria promover um choque entre diferentes percepções de tempo e de “ocidente” e “oriente”, representando um “japão” que habita muito mais o nosso imaginário do que propriamente o “ mundo real”. Em um choque temporal, unir o passado, o presente e os futuros imaginados em um único conceito: o da imagem dialética de W. Benjamin.
Em segundo lugar, a premissa do filme é pensar sobre a nossa relação com a imagem no contemporâneo, cuja ubiquidade de ecrãs dos mais diversos tamanhos e formatos tem se tornado uma experiência dominante. Crio, a partir dos recursos da montagem, um filme que se interroga sobre o seu próprio dispositivo. Assim, a partir do cruzamento de elementos como a fantasmagoria e o realismo, investigo a premissa da indexicalidade da imagem em contraponto com a manipulação da imagem digital. Essas questões são costuradas por um discurso poético retirados de alguns excertos do diário, que permite que acompanhemos Matsuo Bashô em sua jornada.
Por fim, a terceira premissa do filme foi produzir algumas quebras de dicotomia da separação do orgânico e do técnico, onde a experiência com a paisagem e a natureza poderiam ser experimentados esteticamente via câmeras na internet, em uma contracorrente que separa ontologicamente humanos e máquina. Essa nova corrente de pensamento estaria alinhada com os estudos de Donna Haraway e Viveiros de Castro-em uma nova metafísica em uma perspectiva pós-humanista.
informações gerais
edição
5° Festival ECRÃ
venues
Online
data e hora
duração em min
15
premiere
Première Internacional 5° Festival ECRÃ
classificação indicativa
L / Free for all audiences / Livre Para Todos Os Públicos
conversa/bate-papo
tags
arte, cyberpunk, docuficção, documentário-híbrido, ecologia, found footage, metaficção, nova mídia, quarentena, web, traduçao / cinema de poesia
trailer/teaser/trecho
Bárbara Bergamaschi
Bárbara Bergamaschi é realizadora e pesquisadora. Escreve tese de doutorado sobre Found Footage e Cinema Experimental. É Visiting Researcher na Escola das Artes da UCP- Porto em Portugal, onde reside.
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